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Segurança de voo e a saúde

23/04/2019

Durante a II Guerra Mundial os bombardeiros americanos estavam sendo fortemente atingidos pela defesa aérea alemã. A Força Aérea americana buscou então ajuda de uma das diversas equipes de cientistas universitários para elaborar uma solução para essa complexa situação, que custava perdas humanas e materiais, com o risco de se perder a guerra.

Eram desconhecidos os danos que ocasionavam a queda dos aviões, mas sabia-se que os que retornavam haviam sido alvejados principalmente nas asas, cauda e fuselagem. A proposta inicial de aumentar toda a blindagem das aeronaves ocasionaria um excessivo aumento de peso, prejudicando seu desempenho. Como resolver essa questão?

O matemático e estatístico, imigrante judeu húngaro Abraham Wald (1902-1950), com base no número, local e tipo de dano, demonstrou que a possibilidade de não ser abatido dependia do local onde o avião era atingido. Com testes estatísticos, demonstrou que o menor número de perfurações nos motores e na cabine dos pilotos seria um fator independente para que esses aviões, com os motores e pilotos ativos, mesmo que atingidos, conseguissem retornar às suas bases.

Wald, pioneiro na análise sequencial das decisões, estudou o dilema de aceitar ou rejeitar uma hipótese, ou aguardar a análise das inúmeras possibilidades, temendo que a escolha errada resultasse em uma grave perda. No entanto, por sermos frequentemente obrigados a tomar uma decisão dispondo de informações incompletas, era fundamental minimizar uma perda completa (máxima). Dessa forma postulou o princípio de tomada de decisão conhecido como o Princípio do Minimax. Suas mais de 60 publicações técnicas e lógicas levaram esse carismático professor a conquistar o mundo acadêmico.

Após conferências em Paris e Roma, viajou para uma série de palestras em universidades indianas. Em 13 de dezembro de 1950, ele e sua esposa morreram, quando o avião Douglas DC-3, da Air Índia, se chocou com as montanhas do Extremo Sul da Índia. A investigação do acidente concluiu que, devido à pouca visibilidade, o piloto avaliou mal a distância da montanha. Um mês antes, outro avião da Air India havia colidido com o Mont Blanc, na fronteira da França com a Itália.

Esse dois acidentes foram classificados como CFIT, “Controlled Flight Into Terrain” (em tradução livre, ‘voo controlado contra o terreno’). Nesse tipo de acidente a aeronave é involuntariamente jogada contra o solo, obstáculo ou corpo de água, estando sem problemas mecânicos e sob controle do piloto, que não percebe o desastre iminente até que seja tarde demais.

Os artigos de Wald e o conceito do CFIT servem para entender o que vem ocorrendo com o nosso sistema de saúde, pois o ensino (motores) e profissionais de saúde (pilotos) são abatidos pela falta de gestão, corrupção e condições de trabalho. Os passageiros (pacientes) – missão desse sistema de transporte complexo (sistema de saúde) – sofrem para pousar em segurança, após as inevitáveis turbulências que todas as doenças provocam.

Alfredo Guarischi

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