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As médicas guerreiras

11/03/2019

O papel do médico na sociedade não mudou, mas a medicina no Brasil, como em outros países, tem se tornado uma profissão de mulheres, trazendo mais calor humano e novos desafios à profissão, numa longa história.

A primeira escola de medicina brasileira foi criada em 1808, na Bahia, mas não aceitava mulheres. Em 1879, a carioca Maria Augusta Estrela, após vencer preconceitos e quebrar barreiras, tornou-se a primeira brasileira a se formar em medicina, pelo New York Medical College, uma faculdade exclusiva para mulheres. Foi a oradora da turma e agraciada com uma medalha de ouro pelo seu desempenho. Em 1882, ao retornar ao Brasil, foi recebida pelo Imperador, e seu diploma revalidado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Somente em 1887, diplomou-se a primeira médica no Brasil, a gaúcha Rita Lobato Lopes, pela Faculdade de Medicina da Bahia. No ano seguinte, a também gaúcha Ermelinda Lajes de Vasconcelos foi a segunda médica a se formar no Brasil e a primeira pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Segundo o excepcional trabalho do Dr. Mário Scheffer, “Demografia Médica no Brasil”, até hoje existem mais médicos em atividade do que médicas, mas o predomínio de 70% até 1980, caiu para 51% a partir de 2000. Em 2017, 46% dos médicos entre 35 a 59 anos de idade eram mulheres, e elas a maioria – 55% – na faixa até os 34 anos de idade.

A formação em medicina é longa. No mínimo nove anos, com dedicação integral entre faculdade e residência médica, num intenso treinamento, privação de sono e hierarquias rígidas. Para as médicas, ainda há a desigualdade do trabalho doméstico; as que são mães gastam muito mais horas semanais nessa missão do que seus colegas do sexo masculino e são mais propensas a atrasos ou faltas no emprego por causa das doenças e “urgências escolares” dos filhos.

Homens e mulheres são tratados de forma diferente, o que não é adequado, pois cria espaço para o preconceito – consciente e inconsciente – interferindo na relação com os pacientes e entre os colegas médicos. Esses vieses influenciam no respeito mútuo e nas promoções. Nos EUA a possibilidade de as médicas se divorciarem e de cometerem suicídio é bem maior do que a de mulheres em outras profissões.

Há um ditado que diz que não se pode cuidar bem dos pacientes, a menos que se cuide bem de si mesmo, porém, como li numa revista médica, como cuidar dos pacientes, de você e dos filhos, trabalhando 80 horas por semana? No Brasil é muito pior, já que o nosso desorganizado sistema de saúde está caótico.

Os preconceitos – tanto sutis quanto evidentes, de pacientes e de profissionais – podem ser igualmente perniciosos. É possível que essas lacunas diminuam à medida que a medicina passe de um clube de meninos para um com mais meninas. Lembre-se, contudo, de que as disparidades não desaparecem ao toque de uma fada-madrinha, e sim com a perseverança e a resiliência de Jessicas, Adrianas, Paulas e outras meninas guerreiras que seguiram a “Estrela” pioneira.

Alfredo Guarischi

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