Órgão Oficial de Divulgação Científica da
Sociedade Brasileira de VideocirurgiaISSN: 1679-1796
ANO 3 Vol 3 Nº 1 - Jan/Mar 2005<< Arquivo PDF >>
Cirurgia no Hiato Esofágico: a Identificação Correta das Estruturas Anatômicas
Surgery in The Esophageal Hiatus: The Correct Identification of Anatomical Structures
Cláudio Bresciani
BRESCIANI C. Cirurgia no Hiato Esofágico: a Identificação Correta das Estruturas Anatômicas. Rev bras videocir 2005; 3(1):1-2.
domínio da anatomia, por parte do cirurgião, da região a ser operada é conhecimento fundamental para que o resultado seja o esperado tanto pelo profissional médico como pelo paciente. A anatomia humana é um campo complexo e muitas vezes de difícil entendimento. Muito embora o ensino da anatomia seja realizado nos primeiros anos do curso médico, deve esta matéria ser revisitada por todos os médicos e com especial atenção pelo cirurgião. O clínico entenderá que muitas vezes a forma faz a função e o cirurgião além disto traçará um mapa mental da área em que atuará. O conhecimento preciso da anatomia, forma das estruturas, sua origem e inserção permitirá ao cirurgião a segura identificação das referidas estruturas e correção dos defeitos que porventura aí existam.
Outro ponto importante do perfeito domínio da anatomia refere-se ao conhecimento da correta terminologia anatômica. Longe de parecer preciosismo, a utilização correta dos nomes das estruturas anatômicas e não de apelidos é imprescindível, por mais comuns que eles possam parecer, pois que variam de um grupo médico para outro e podem não se referir a uma mesma estrutura anatômica. A insistência em se utilizarem nomes às vezes consagrados, porém incorretos do ponto de vista da pureza anatômica, reflete-se de forma danosa nas várias áreas da transmissão do conhecimento médico e na área da pesquisa, quando a comparação de procedimentos realizados torna-se prejudicada senão totalmente impossível. Tal fato ocorre porque mesmas estruturas anatômicas receberão nomes diversos e também porque o mesmo nome será utilizado para estruturas diferentes, o que torna inviável e mesmo temerária a comparação de resultados.
A colecistectomia e a correção do refluxo gastro-esofágico são os dois procedimentos onde o emprego da videocirurgia não é motivo de debates estando consumada a indicação destes procedimentos através da cirurgia minimamente invasiva.
Já há algumas décadas Belsey, Skinner e DeMeester definiram os critérios para se obter bons resultados na cirurgia de correção do refluxo gastro-esofágico: reposicionamento do esfíncter inferior do esôfago, aproximação dos ramos do pilar diafragmático e a fundoplicatura. DONKERVOORT e cols.1 comentam em seu estudo que por trás de um mau resultado na cirurgia da correção do refluxo gastro-esofágico há sempre uma explicação anatômica. Assim o estreitamento do hiato esofágico durante a intervenção cirúrgica é procedimento fundamental da técnica operatória e somente será adequadamente obtido se houver preciso conhecimento da anatomia. Tal conhecimento, obrigação de todo cirurgião do aparelho digestivo, é revisto com detalhes, porém de forma extremamente objetiva no artigo "Cirurgia no Hiato Esofágico: a Identificação Correta das Estruturas Anatômicas" publicado neste fascículo e de autoria de Fregnani, Macéa & Barros. É recomendável aos estudantes, mas principalmente aos residentes e também aos cirurgiões já na prática clínica a atenta leitura deste artigo, uma vez que não basta exibir uma grande experiência cirúrgica desacompanhada de preciso conhecimento da anatomia e da "nomina" das estruturas da região. O não conhecimento da anatomia redundará em resultados cirúrgicos precários e o não conhecimento da correta terminologia propiciará um precário entendimento dos resultados e tornando-os não comparáveis com os de outros estudos.
Referência Bibliográfica
1. Donkervoort SC. Bais JE. Rijnhart-de Jong H. Gooszen HG. Impact of anatomical wrap position on the outcome of Nissen fundoplication. British Journal of Surgery 90(7):854-9, 2003.
CLÁUDIO BRESCIANI
Professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Chefe da Unidade de Cirurgia Laparoscópica do Hospital das Clínicas de São Paulo
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