Órgão Oficial de Divulgação Científica da
Sociedade Brasileira de Videocirurgia

ISSN: 1679-1796
ANO 4 Vol 4  Nº 1 - Jan/Mar 2006

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Treinamento em Vídeo-Cirurgia

Training in Videosurgery

Fábio Guilherme Campos






CAMPOS FG. Treinamento em Vídeo-Cirurgia. Rev bras videocir 2006; 4 (1):1-2.



A

este ano a vídeo-cirurgia completa 16 anos no Brasil, com atividades práticas, científicas e didáticas intensas. Nesse contexto a SOBRACIL (Sociedade Brasileira de Vídeo-Cirurgia) foi pioneira e se tornou a maior representante brasileira dos cirurgiões que militam nessa área de atuação.
    Assim substanciada, a SOBRACIL vem atuando em harmonia com as diferentes especialidades através da organização de cursos de atualização, congressos, jornadas e cursos continuados. Desempenha também atividades nas áreas de fiscalização da atividade médica e defesa profissional, possibilitando, ainda, a obtenção de habilitação para os cirurgiões, cuja importância legal é cada vez mais reconhecida.
    Apesar de todo este progresso, somente nos últimos anos a vídeo-cirurgia passou a ser parte integrante dos Programas de Residência Médica em algumas instituições de forma organizada, permitindo ao jovem cirurgião integrar de maneira natural o aprendizado em cirurgia convencional às técnicas laparoscópicas. E ainda hoje existem muitos colegas que ainda estão iniciando seu aprendizado em laparoscopia, mesmo que tardiamente.
    A introdução das técnicas minimamente invasivas trouxe consigo a necessidade de assimilar novos conceitos, pois os procedimentos laparoscópicos têm seu campo operatório exposto em um monitor, requerem adaptação visual, espacial, psicomotora e técnica. A velocidade para esta adaptação é individual e não é facilmente extrapolada da cirurgia convencional. Foi também necessário voltar às bases do aprendizado cirúrgico, rever e reaprender a anatomia sob uma nova ótica, desenvolver habilidade técnica específica e treinar. Treinar muito.
    Individualmente, parte desse treinamento pode ser desenvolvido fora das salas operatórias, em sistemas que utilizem modelos animais ou simuladores. Os objetivos de muitos modelos de treinamento são ajudar o cirurgião a adquirir habilidades laparoscópicas básicas como coordenação entre mãos e olhos, percepção de profundidade e confecção de endo-nós e suturas. Esses passos devem preceder a aquisição de habilidades relacionadas aos procedimentos operatórios.
    Caixas especialmente adaptadas para vídeo-treinamento são bastante úteis nesse propósito. Diversos modelos de caixa preta foram empregados desde o início da década de 90 em cursos práticos de vídeo-cirurgia, auxiliando o cirurgião iniciante a se familiarizar com a via de acesso. No artigo publicado neste número da RBVC "Treinamento em Vídeo-cirurgia - Atualização de modelo de "Caixa Preta" para uso com microcâmera" de Elton Francisco Nunes Batista e Gustavo Adolfo Pavan Batista, os autores relatam modificações estruturais na "caixa preta" para facilitar sua utilização prática. Certamente futuras modificações irão incrementar ainda mais esse dispositivo tão útil.
    Entretanto, o avanço na aquisição das habilidades técnicas como dissecção, secção, controle vascular e síntese requer modelos mais sofisticados, seja em animais ou cadáveres humanos. Um modelo ideal deveria prover o aprendizado necessário de maneira barata, ser facilmente disponível e similar anatômica e fisiologicamente a um paciente anestesiado. A potencialidade dos simuladores mecânicos ou de realidade virtual é enorme, embora não estejam facilmente disponíveis, mesmo em grandes centros. Novos simuladores têm sido desenvolvidos para prover não só o desenvolvimento de habilidade psicomotora, como também permitir o treinamento com orientação anatômica e tomada de decisões1. Um outro grande passo futuro é a introdução do conceito de "universidade virtual", que permitirá ao cirurgião atualizar seus conhecimentos à distância pelo acesso a ilustrações especializadas e vídeos 2.
    Outro degrau na evolução do treinamento consiste no emprego de técnicas minimamente invasivas em cadáver fresco3. Essa opção possibilita acessar planos cirúrgicos essenciais, identificar estruturas anatômicas importantes (vasos, nervos, relações topográficas) e repetir procedimentos até que se obtenha uma padronização técnica. Espera-se com isso reduzir a curva de aprendizado e as complicações a ela associadas.
    Assim, o bom desempenho das atividades práticas em vídeo-cirurgia requer muito estudo, preparo, atualização e treinamento. Individualmente, cada cirurgião terá a disponibilidade de aprender, treinar e se aperfeiçoar de maneiras diferentes. Às sociedades médicas responsáveis cabe criar e facilitar amplamente o acesso às diversas formas de treinamento básico ou avançado. E é nessa direção que norteamos as atividades da atual diretoria do SOBRACIL-São Paulo.
    Mas mesmo os cirurgiões laparoscopistas habilidosos e devidamente treinados devem ter em mente que bons resultados se constroem a partir de uma indicação adequada, de um bom preparo pré-operatório e da devida condução do paciente no pós-operatório.
    
 

Referência Bibliográfica
1. Halvorsen FH, Elle OJ, Fosse E. Simulators in surgery. Minim Invasive Ther Allied Technol 2005; 14(4):214-23.
2. Mutter D, Rubino F, Temporal MS, Marescaux J.Surgical education and Internet-based simulation: The World Virtual University. Minim Invasive Ther Allied Technol. 2005;14(4):267-74.
3. Pattana-arun J, Udomsawaengsup S, Sahakitrungruang C, Tansatit T, Tantiphlachiva K, Rojanasakul A. The new laparoscopic proctocolectomy training (in soft cadaver). J Med Assoc Thai. 2005; 88 (4):S65-9.


Fábio Guilherme Campos
Assistente Doutor
Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP
Presidente, Sobracil (SP)
fgmcampos@terra.com.br