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Ajudem Maria

15/05/2017

Maria tem seis anos de idade, sempre brincalhona, começou a ficar cansada, a perder peso e com dores nos joelhos. Seus pais, Mikael e Marceli, sem plano de saúde, buscaram ajuda no posto de saúde, em Campinas, onde moram. Lá houve suspeita de que Maria pudesse estar com um câncer no sangue, sendo logo encaminhada para o Instituto Boldrini, um dos melhores centros de oncologia pediátrica do Brasil.

A primeira consulta foi acolhedora e alegre. Pediatras são pessoas incríveis!

Dra. Sílvia Brandalise, uma oncologista especializada, soube lidar com o choro de Maria, que a todo tempo perguntava por que as outras crianças que ela via no hospital eram carecas. Ela não queria ficar careca, pois suas coleguinhas de escola iriam caçoar dela.

Enquanto a pequena brincava no consultório repleto de brinquedos, seus pais souberam que sua única filha era portadora de leucemia linfocítica aguda (LLA). Com a voz pausada, a médica, experiente e carinhosa, explicou que a pequenina tinha um câncer dos glóbulos brancos do sangue, os linfócitos. Desempregado, o casal estava inseguro, por não mais poder, numa situação tão grave, utilizar hospitais privados e só lhe restar recorrer ao SUS.

Contudo, logo perceberam que há também compromisso no sistema público de saúde. A doutora tinha os olhos como quem também chorava diante do sofrimento e da incerteza. Mas expressava esperança, um final feliz, pois hoje quase 90% dos portadores desse tipo de leucemia sobrevivem e podem ter um futuro.

Seria um tratamento longo, por até três anos, com períodos de quimioterapia utilizando até cinco tipos diferentes de medicamentos; um dos principais seria a asparaginase.

A asparagina é um dos “tijolos” que ajudam a formar proteínas necessárias à sobrevivência de todas as células humanas, sadias ou doentes. As células da LLA não conseguem sintetizar - fabricar - a asparagina, ao contrário das células normais. Por isso, necessitam de grandes quantidades da asparagina que circula no sangue. A asparaginase destrói parte dessa asparagina circulante, assim levando à morte das células malignas.

Mas as lágrimas da Dra. Sílvia tinham mais uma razão. O estoque desse medicamento essencial para pacientes do SUS vem acabando, em mais um descaso do Ministério da Saúde. Esse produto não é fabricado no Brasil, sendo uma substância biológica (não sintética) obtida, com extremo controle, em poucos laboratórios especializados, a partir de alguns tipos de bactérias.

Sem consultar especialistas, o Ministério autorizou a compra de uma asparaginase chinesa, por meio de um fornecedor de endereço incerto, com o argumento de o preço ser cinco vezes menor, comparado ao dos produtos certificados internacionalmente.

Nenhum médico deve prescrever um medicamento sem comprovação de sua qualidade de produção, grau de pureza, segurança e eficácia.

O Instituto Boldrini, a imprensa, as sociedades médicas envolvidas e o judiciário estão se mobilizando.

Maria vai sobreviver, ajudem.

Alfredo Guarischi


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